11 setembro 2011

o som esteve muito quieto hoje.

O som esteve muito quieto hoje, demarcou uma mudança; de calor; de presenca; correntes e luas preencheram marés e os nós dos meus dedos parecem mais carregados, mais envelhecidos, queimados do sol e secos do sal.
O som pareceu quieto hoje mas a porta estava, ou devo dizer, continuava aberta.. creio que vento é a resposta para a desordem desta casa que vês e para a porta aberta que nunca terá estado cerrada.
Os vidros estavam partidos mas espalhados não estariam anteriormente, antes do vento e da porta aberta. A sombra está diferente e não o digo sabendo de que horas se tratam, diferente está ou eu a vejo com diferentes olhos. Tive medo da sombra, tive medo dos olhos que certa vez me olharam na penumbra. Olhos esses, que trazidos pelo vento e agora depositados na desordem visível estão espalhados pelos vidros, espelhados naquela sombra.
Pisei o vidro, não me cortei, fechei a porta mas não a cerrei, faltou a chave que procurei sem encontrar, libertei o meu interesse por ela em troca de palavras que não tive de escrever pois já bem o tinham feito antes de mim, antes do vento que naquela tarde me abriu a porta e me desordenou espalhados, os vidros no chao.
A cama range por pena de quem nela se deitou e não por de antiga se tratar. Ela conhece corpos, tem deveras saber de passado calor e talvez ranja por isso. Pena dos odores que nela se deitaram e ousaram serenamente cerrar olhos, para talvez sonhar.
Ousei alto degrau a alto degrau subir e escalar, porém chegar ao seguinte patamar não me fez sorrir. Lá eu senti o vento e lá já breu o céu estava sem eu ter tido tempo de sentir os pássaros sobrevoar a entrada do quintal. Tempestade no mar, gaivotas em terra. Dizem, dizem eles e elas que, sentados as portas, vêem passar os pobres de coração, de sonhos descozidos. Destes são os olhos que me foram trazidos pelo vento, esse diabo de vento descansar não deixou. Apenas me mostrou esses olhos espelhados na sombra lá de cima, da noite chegada, espalhados nos vidros desordenados e caídos.
Soava velha a valsa que o vento ressoou, soavaml longe as reminiscências do passado cravado, mal tratado. A valsa de disputas, a valsa vivida por inocências desaprendidas, perdidas, caídas, levadas por esse diabo de vento que recorda os olhares temerosos do futuro, que nos vidros partidos desordenados se presenteia a quem os estiver disposto a observar.

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