15 junho 2014

Sinto um peso na nuca de carregar um fardo que não é meu. Ouço a gaivota incomodada, expele agressivamente a raiva pelo bico. Apesar do desconforto que é ouvi-la, quero ser como ela. Poder carregar o peso, mesmo que roubado - do mar; de outro bico - poder suportar essa carga conscientemente. Pronto, talvez a personificação se tenha desviado por meios desmedidos de exagero e excentricidade. Ou talvez não e as palavras sejam tão reais e verdadeiras quanto eu aqui sentado, meio torcido, à espera de um chamamento que sei já não chegar da mesma altitude. 
E agora de repente as palavras e as letras deixaram de ter qualquer impacto, pois nenhum signo desses será, jamais, genuíno. Como a raiva que ouço da boca da gaivota por carregar o peso, antes de o engolir. Engolir o peso, incorporá-lo sem que nunca consiga sair. Quão visceral se terá tornado isto agora? Nada, tendo em conta a nutrição, Tudo, pesando mais de metade em elementos dispensáveis.